13 de out. de 2010

O Desenvolvimento das Organizações Desportivas: Um olhar sobre os fatores de desenvolvimento do desporto.

Thiago de Oliveira Santos*
Priscila Ellen Pinto Marconcin**

No desporto, os objetivos e resultados envolvem-se intimamente com o sucesso ou insucesso das organizações, além deste aspecto, a especificidade do produto desportivo, bem como, a gestão deste, apresenta-se como necessário ao desenvolvimento desportivo no contexto das organizações. Porém de que desporto estamos falando? Qual tipo de organização e quais ações que desenvolvem para que garantam realmente os pressupostos do desenvolvimento estratégico do desporto moderno?

Neste estudo evidencia-se questões conceituais a respeito do papel social das organizações desportivas, bem como, de que forma estas devem estar estruturadas para que garantam a efetividade de suas ações estratégicas, o objetivo de entender esta problemática é justificado pela necessidade cada vez maior do enquadramento da organizações desportivas em uma gestão profissional que considere todas as intervenientes internas e externas a ela como fatores determinante para seu de desenvolvimento.

Panorama do Desporto Moderno

Não há dúvidas da importância do desporto moderno da sociedade atual, sua forma de organização está referenciada em instituições que creditam ao fenômeno desportivo valores que buscam contemplar suas dimensões, sociais, culturais, políticas e econômicas.
Olhar para o esporte atual e conceituá-lo como um fenômeno de múltiplas dimensões, implica em observar como sua evolução se correlaciona com esses fenômenos. Se hoje o esporte moderno, que é facilmente diagnosticado, entre outros, como esporte-espetáculo e exerce influência direta na sociedade, é porque foi constituído imerso em transformações e desenvolvimento dos fenômenos citados, mantendo, no entanto, suas características autônomas, (...), por ter crescido no interior dessa sociedade. Assim, vários são os ‘recortes’ possíveis para sua observação.
(BOURDIEU, 1983, apud RODRIGUES e MONTAGNER, 2004)


O fenômeno desportivo retratado considera que as transformações histórico-sociais do desporto contribuíram de forma direta para a formatação do desporto moderno, as múltiplas dimensões são discutidas por Cagigal apud Tubino (1987) como características que norteiam a organização do desporto em unidades sociais específicas denominadas clubes, de regulamentações e codificações que passam a facilitar a internacionalização das modalidades desportivas. Entende-se, portanto, que a alocação do fenômeno desportivo nas dimensões sociais, culturais, históricas, econômicas e políticas passa a significar um olhar mais complexo sobre o sentido do desporto, considera-se assim, a necessidade de encaminhamentos que apresentem a sociedade como um fenômeno institucionalizado, baseado em premissas que direcionem a sua aplicação em qualquer das suas dimensões. Prieto apud Tubino (1987) ao justificar o impacto do associacionismo desportivo na sociedade, remete-se a Thomas Arnold, ao definir o desporto como um “microcosmo”, uma miniatura da sociedade humana, no qual o associacionismo tem representatividade direta no desenvolvimento e ordenamento do desporto moderno.

No caminho da institucionalização do desporto, as dimensões deste fenômeno iniciam um diálogo direto com a sociedade, e a sistematização do desporto passa ser um elemento fundamental para seu desenvolvimento, o reflexo desta necessidade nos remete ao entendimento das organizações desportivas, e de que forma elas estão contextualizadas.

O Papel das Organizações Desportivas no Desenvolvimento Estratégico do Desporto

Para Roche (2002), O desporto, como um dos fenômenos sociais e culturais mais importantes do século XX, tanto em sua vertente de espetáculo, como de prática livre e voluntária do cidadão, desenvolve-se fundamentalmente, através de entidades e organizações ddesportivas. Para Drucker (1997), a estratégia transforma a missão e os objetivos de uma instituição em bom desempenho. A estratégia conclui-se com o conhecimento do mercado: quem é o cliente, quem deveria ser; quem poderia ser. (Drucker, 1997). No caso específico de uma organização desportiva Roche (2002), afirma que mais de uma estratégia pode ser tomada como base para atingir os objetivos estabelecidos, porém, para o autor, é preciso que existam características que apresentem maior clareza a aplicação dessas estratégias. Por isso, estas devem ser específicas e concretas, mensuráveis e avaliáveis, realistas, passíveis de uma aplicação prática, compreensíveis e motivantes para que toda organização assimile e aplique da melhor forma o que foi estabelecido.

Neste sentido, podemos considerar tais características como determinantes nas ações estratégicas, o fato de serem específicas e concretas demonstra a necessidade de se entender o contexto em que a organização desportiva esta inserida, e qual a melhor forma de abordar as estratégias. Ainda nesta direção, torna-se importante que tais estratégias sejam avaliadas e possam ser modificadas à medida que se faça necessário, por isso devem ser mensuráveis e avaliáveis. Intimamente relacionada com a realidade em que a organização se insere, as estratégias precisam ser mais do que um processo de aplicação, devem também servir de motivação para os envolvidos em seu emprego.
Para Pires (2003):
A estratégia tem de ser a de fazer com que as coisas aconteçam de acordo com as ideias daqueles que têm capacidades e competências para idealizarem um futuro a médio e longo prazos. Que tenham uma visão prospectiva de todo este fenômeno de luta entre contrários que se completam – teoria e prática; novo e velho; micro e macro; curto e longo prazos, etc.

Ao aplicar ou definir uma estratégia, as organizações desportivas precisam desenvolver em sua dinâmica, processos que percebam estas atitudes como um caminho ao desenvolvimento.

Avançando na discussão do planejamento estratégico, e de que forma as organizações desportivas devem sistematizar suas ações, pretende-se entender alguns aspectos, nomeadamente características do planejamento estratégico. Como qualquer outra organização, as organizações desportivas precisam ter estabelecidos objetivos a partir do seu planejamento estratégico, Roche (2002), enuncia alguns aspectos que devem estar presentes como objetivo geral deste planejamento. O primeiro ponto diz respeito a reflexão da organização sobre os objetivos a médio e longo prazos, o segundo é definido pelo estabelecimento e definição dos objetivos e estratégias para toda a organização, o terceiro ponto, envolve a motivação dos colaboradores na discussão, assimilação e aplicação das estratégias, e o quarto ponto diz respeito ao que espera a organização para seu futuro. Neste sentido, entende-se que o planejamento estratégico das organizações desportivas deve se preocupar, com a análise do contexto em que está inserida bem como, a relação dos seus intervenientes internos com este contexto, a partir disto, definir e aplicar suas estratégias, refletindo sempre sobre os encaminhamentos que precisam ser discutidos, melhorados e/ou modificados.

Analisando este panorama, utiliza-se o conceito de Cardoso (1999), que considera a adoção de uma gestão estratégica um fator determinante para o êxito das organizações, principalmente pelo contexto competitivo e de rápidas mudanças. Neste sentido, o autor define que as decisões que levem em consideração o futuro, não devem se orientar apenas por uma reação do cenário do presente, também, que as pessoas tenham melhor desempenho por saberem o que delas se espera e para onde irá a organização, que o topo da organização tenha uma perspectiva comum sobre as estratégias e as orientações fundamentais, que os gestores envolvidos se desenvolvam e como tal tomem melhores decisões, assim, para que tudo isto determine o desenvolvimento da organização, é preciso estabelecer uma melhor comunicação e consequente coordenação do que se espera e se considera ideal para a organização.

Entendendo a necessidade da interpretação deste contexto, pode-se dizer que o desenvolvimento desportivo tem no seu sentido mais amplo, a agregação de valores do desporto na sociedade, e sofre uma influência direta desta sociedade em sua intervenção. Envolvidos neste sentido os aspectos culturais, sociais e econômicos. Isto representa a mobilidade as quais as organizações precisam se sustentar, o que se pretende hoje enquanto organização dependerá muito de sua cultura organizativa, o que remete, ao entendimento do processo evolutivo da sociedade, do desporto e da própria organização.

Neste sentido, segundo John Rawls apud. Pires (2005), dois princípios precisam ser respeitados para que haja verdadeiramente o objetivo agregado ao desenvolvimento: o primeiro diz respeito a igualdade na repartição dos direitos e deveres básicos; o segundo, versa que as desigualdades só são justas se forem geradoras de benefícios e compensadores para todos, em especial para os menos favorecidos. Essencialmente o desporto parece caminhar em alguns momentos na direção deste conceito, porém, ao determinar-se os princípios compensatórios deixa-se de lado o que acredita-se como um processo de modificação de uma estrutura social muito maior e complexa, assim, o desenvolvimento desportivo passa a ser também uma ferramenta de mudança dos contextos sociais, sendo o desporto o principal vetor desta mudança. As organizações envolvidas com estes elementos precisam ter o entendimento da perspectiva social que é atraída neste contexto.
Assim ao se interpretar e identificar o locus organizacional deve-se estabelecer parâmetros, ou fatores que determinem este desenvolvimento. É fato que as organizações desportivas precisam estabelecer critérios e metas para o seu desenvolvimento. Neste sentido, faz-se necessário o entendimento sobre estes objetivos, comumente relacionados as estratégias das organizações, como já tratado anteriormente, alguns aspectos são intencionalmente ligados a estes conceitos, e é neste foco que continuamos a discutir a respeito dos fatores de desenvolvimento desportivo. No que diz respeito aos objetivos das organizações desportivas, segundo Roche (2002), as estratégias e os objetivos são pertinentes ao momento e as condições em que as organizações se encontram, para que exista necessariamente o desenvolvimento a partir de ações planejadas e operacionalizadas, a interpretação de todo o contexto em que está inserida a organização, faz-se necessário. No caso das organizações ligadas ao desporto, precisam-se estabelecer dois tipos de objetivo segundo o autor, o primeiro diz respeito aos objetivos da própria organização, e o segundo diz respeito ao desenvolvimento de uma determinada modalidade desportiva, o que assegura a necessidade do conhecimento do todo da organização. Então, o processo de execução das estratégias torna-se algo extremamente complexo e muitas vezes sem sentido, se a organização não consegue estabelecer seus objetivos e direcionamentos no rumo de seu desenvolvimento, em face a esta questão, tal desenvolvimento em determinado contexto, seja ele, de um país ou de uma região, passa a depender de muitos e diversos fatores, sejam eles, organizativos, estruturais e logísticos.

Fatores de Desenvolvimento do Desporto

Ao estabelecermos esta conjuntura, adentramos nos aspectos ligados aos fatores de desenvolvimento desportivo. Estes que segundo Cunha (2003), são operadores que articulados em conjunto produzem alterações na situação desportiva. Analisando o desporto através dos quantitativos dos seus elementos e buscando um melhor cenário para que efetivamente exista o desenvolvimento desportivo.

Sendo assim, optou-se pela conceituação de Pires (2005), em relação ao que versa sobre os fatores de desenvolvimento desportivo, para o autor, 12 são os fatores de desenvolvimento do desporto, os quais serão elencados na sequência:

1. Orgânica;
2. Atividades;
3. Marketing;
4. Formação;
5. Documentação;
6. Informação;
7. Instalações;
8. Apetrechamento (Equipamentos);
9. Quadros Humanos;
10. Finanças;
11. Normativo;
12. Gestão.

Para o autor, a orgânica representa de forma estrita, a estrutura e a relação das partes com o todo da organização. De forma “lato” constitui-se dos organismos nacionais e internacionais, governamentais e não-governamentais que enquadram o desenvolvimento desportivo.

No que diz respeito às atividades, define como o conjunto de ações que podem variar de acordo com as modalidades desportivas, ações que são dirigidas a um público específico, tendo atenção aos objetivos, a dinâmica da organização e as etapas constituintes do desenvolvimento desportivo. O marketing é um dimensão que se estabelece a partir da comunicação da organização com o meio externo, objetivando criar ou suprir uma necessidade sistematizada no contexto da organização, pode ser dirigido para organizações sejam elas com ou sem fins lucrativos.

O quarto fator diz respeito à formação, definido pelo processo de valorização técnica e humana dos agentes envolvidos nas organizações, criando assim, a possibilidade de um maior crescimento organizacional a partir do quadro humano que deverá incorporar sempre o sentido de eficiência, integração e dinâmica em sua qualificação.
O quinto fator a documentação, deve congregar o conjunto de produções que permitem referenciar os diversos aspectos não só pertinentes ligados a modalidade desportiva, mas que também remetam as características organizativas, articulando-se as informações, sexto fator de desenvolvimento desportivo. Assim, a informação, caracteriza-se pelo caminho que circulam os dados da organização, neste sentido, dá-se ênfase ao espaço conquistado pelo desporto nos meios de comunicação, o que vem a ser também um risco, caso as organizações não possuam efetivamente um sistema que possa alimentar e direcionar o que é veiculado, isto pode otimizar ou criar alguns empecilhos no processo de funcionamento organizacional.

As instalações dizem respeito ao conjunto de meios e espaços necessários ao desenvolvimento das atividades desportivas, neste sentido, eles podem ser materiais, artificiais, naturais e ou semi-naturais. Constitui-se de um todo que tem por objetivo dar um suporte a prática, com unidades de apoio, sejam estas vestiários, balneários, arrecadações de material entre outras. As instalações podem apresentar ou não, inúmeras unidades de apoio, assim sendo, classificando-as segundo sua funcionalidade e usualidade.

O apetrechamento são os equipamentos que aparelham as instalações desportivas, sejam balizas, tabelas, podendo ser classificados em leves e pesados, e os equipamentos utilizados os praticantes das modalidades de forma individual ou coletiva. O nono fator indica os indivíduos diretamente ligados ao processo de desenvolvimento desportivo, o quadro humano neste sentido, é caracterizado por todos aqueles envolvidos nas modalidades desportivas sejam eles os praticantes, técnicos, dirigentes, e espectadores.

No que concerne aos fatores financeiros, observa-se o conjunto de ações que se desenvolvem para satisfazer as necessidades de financiamento das organizações, isto depende do sistema econômico em que a organização está inserido, assim, estabelecem-se critérios e políticas de implementação dos fluxos financeiros das organizações desportivas. O décimo primeiro fator diz respeito ao conjunto de normas e leis que regulam o sistema desportivo, o fator normativo.

A definição destes fatores busca atender a necessidade de entendimento sobre as questões que envolvem o desenvolvimento do desporto. Estruturam-se a partir destes elementos, questões que correspondem diretamente ao direcionamento estratégico das organizações, interligando valores pertinentes ao desporto, de maneira que, faz-se necessário não apenas o entendimento do que a organização representa enquanto promotora do desporto, mas também, o que pretende e de que forma sistematiza suas ações em busca do desenvolvimento do fenômeno desportivo pelo qual é responsável.
Deste modo, a análise de intervenientes estratégicos surge como um suporte para consolidar ou modificar o contexto organizativo, isto depende muito da forma e do modelo pelo qual a organização se autoanalisa.

Conclusões

Fica claro neste sentido, que ao se definirem ações que analisam e determinam quais as estratégias adequam-se ao momento da organização, tem-se a noção de um processo de busca por vantagens competitivas. Para Pires (2005), a existência da vantagem competitiva determina-se antes de tudo pela intenção estratégica, que nada mais é do que a capacidade de alocar recursos disponíveis para determinadas tarefas, assumindo as aspirações da organização como ponto de chegada para estas ações, para tanto, todos os cenários possuem pontos-chaves que vão determinar o nível de usualidade das estratégias, a partir da interação com os elementos definidos pela organização para seu desenvolvimento. Algo que Chiavenato (2003), considera como dinâmica competitiva, conceituado como um intenso campo dinâmico de forças interagentes, fazendo com que na definição das estratégias não se pense apenas nas oportunidades e ameaças e nos pontos fortes e fracos da organização, mas também, no comportamento e reações concorrentes.

Sendo assim, o planejamento estratégico deve possuir uma intenção, esta encaminhada para assumir uma posição competitiva favorável a organização, tal intenção deve ser compartilhada por todos os envolvidos em sua gestão, muitas vezes por falta desta interação, existem organizações que passam a apresentar algum desgaste no que se refere aos agentes responsáveis por sua gestão, necessariamente para que se obtenha vantagem competitiva, deve-se consolidar a organização com um conjunto de ações interligadas ao objetivo estabelecido, onde todos se sintam responsáveis por seu desenvolvimento, com isso, os fatores de desenvolvimento do desporto descritos neste estudo, apresentam-se como ferramentas da modificação de uma conjuntura desportiva, na realidade uma alternativa de situar o desporto em um panorama mais profissional e favorável ao seu desenvolvimento, entendendo que todos os organismos desportivos precisam de fato entender em que contexto estão inseridos, sejam estas clubes, associações, empresas desportivas e federações.

*Mestre em Gestão Desportiva - Universidade do Porto/Portugal.
(thiago_os@hotmail.com – http://confrariadodesporto.blogspot.com)
**Mestre em Ciências do Desporto – Universidade do Porto/Portugal.
Bibliografia

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17 de jul. de 2010

Formação de Professores em Desporto: A Contribuição da Gestão Desportiva


*Thiago Seixas dos Santos
O desporto, ao longo de sua existência, passou por grandes evoluções. Estas podem ser observadas através da realidade quotidiana da sociedade pós-moderna. Esta evolução, por sua vez, conduziu o desporto a adequações sempre constantes as “regras” e “normas” ditadas pela sociedade. Neste sentido torna-se necessário ao profissional do desporto seguir estas tendências ou mesmo alterações na indústria desportiva e seus peculiares nuances e características. É possível identificar falhas de ordem de conhecimento técnico, científico, empírico, social e relacional nos profissionais de desporto. Em virtude de várias necessidades identificadas no campo de atuação do profissional de desporto surge um novo campo de estudos: a gestão do desporto. A gestão desportiva objetiva suprir algumas fragilidades observadas neste profissional atualmente. Matérias como o planejamento estratégico, gestão de organizações desportivas, gestão de instalações desportivas, dentre outras, contribuem para a formação de um profissional qualificado, competente e com uma intervenção consolidada. O presente estudo foi realizado utilizando a revisão de literatura como metodologia de pesquisa, através de livros e artigos científicos especializados. Pode-se perceber que perdem espaço no mercado justamente levando em consideração suas fragilidades, mesmo quando o mercado do desporto e a indústria desportiva crescem vertiginosamente. No campo da gestão desportiva percebe-se que na grande maioria dos casos os profissionais do desporto estão ausentes nos cargos que remetem a gestão relacionada com o desporto. Esta é uma realidade que pode e deve ser mudada. Contudo a única alternativa para que haja a mudança necessária é com a prática profissional baseada em resultados. Resultados que virão somente se também estiverem pautados na teoria cientificamente comprovada, que por sua vez, só será possível com atualização e aperfeiçoamento dos saberes que fazem parte da prática profissional do desporto.
*Mestre em Gestão Desportiva - Universidade do Porto/Portugal, Professor da Faculdade Boa Viagem (FBV) e Instituto Brasileiro de Gestão e Marketing (IBGM) - Recife/PE.


3 de jul. de 2010

Futebol e Sadismo

(texto extraído da obra: Futebol Levado a Riso: Lições do Bobo da Corte - Rubem Alves, Ed. Verus. 2006)


Eu nunca fui bom de bola. Por isso  foi uma supresa quando recebi um telefonema: 
- É o Rubem Alves?
- Sim.
- Sou repórter. Meu jornal está fazendo uma pesquisa. Seu nome foi um dos escolhidos para responder a uma pergunta sobre futebol.
- E a pergunta qual é - Perguntei.
- É a seguinte: Acha que o time do Brasil deve jogar futebol eficiente e feio que faz gols ou jogar futebol bonito que é arte?
Suspirei aliviado. Não entendo de nomes e detalhes, mas sobre essa pergunta tenho opiniões precisas, que comecei a formar quando uma paciente me fez uma observação surpreendente. A gente falava sobre humor e desenhos animados. Ela chamou a minha atenção para o fato de que, nos desenhos, a gente só ri em situações sádicas. É quando Tom cai na piscina vazia e se quebra como se fosse vaso. Ou um piano lhe cai em cima, e ele sai andando feito caranguejo. Ou quando o rolo compressor o transforma em panqueca. Desenhos bonitinhos e bonzinhos como os dos Smurfs não fazem rir. Para haver o riso, é preciso que o vilão se ferre.
É claro que a gente sabe que, depois de se partir em mil cacos, o Tom vai reaparecer, na cena seguinte, forte e mau como sempre, sem apresentar quaisquer sinais do sucedido anteriormente. [...]
Desde então fiquei brincando com a hipótese de que a alegria do futebol é parecida. Ela acontece quando a gente tem a chance de realizar o desejo sádico sobre o adversário, que é sempre o Tom da estória.
- Agora veja: o jogo foi pura arte, um maravilhoso espetáculo de balé! Os passes sob medida, as fintas geniais, as articulações com a precisão de teoremas, a técnica dos jogadores, semelhante a de Nureyev. Só que terminou 0 a 0. Você acha que os torcedores sairão pela rua cantando e gritando: "que bonito foi! que bonito foi!?"
- Claro que não - ela respondeu.
- Pois é - continuei -, ninguém assiste futebol para ter experiências estéticas. Quem quer ter experiências estéticas vai ao teatro. A gente assiste futebol para a indescritível felicidade de ferrar o adversário e fazê-lo sofrer. Pois você há de concordar: o que é felicidade pra quem faz, é dor para quem leva.[...]
Fazer um gol contra a Suécia pode dar prazer, mas o prazer não é muito grande. É um povo tão bom, tão branco, tão louro, tão simpático. A gente não tem nada contra eles. Melhor seria não fazê-lo. O que não é o caso da Argentina. Ah! Que prazer divino é fazê-los sofrer, especialmente sabendo que eles pensam o mesmo da gente. O prazer do gol contra a Argentina vale cem vezes mais o prazer de um gol contra a Suécia. Um gol da Argentina dói também cem vezes mais [...]
Futebol-arte só é bonito quando o time da gente está ganhando e serve para humilhar ainda mais o adversário. Quem diria que o gozo do futebol tem a ver com a realização de impulsos sádicos e perversos? 
Mas tenho que terminar esta crônica. O Brasil joga daqui a pouco. Tudo já está preparado. [...] Vou sofrer e gozar. Mas sei que no final, todos os Toms ressuscitarão. Ressurgirão, belos e lampeiros, em seus uniformes brilhantes na próxima Copa, como se nada tivesse acontecido. Tudo é desenho animado.


(Rubem Alves é pedagogo, poeta, filósofo de todas as horas, um dos intelectuais mais famosos do Brasil.)

24 de jun. de 2010

A CONFRARIA

Em algumas definições vamos encontrar vários sentidos para a palavra "confraria", fico com a que considera esta uma irmandade, um aglomerado de pessoas que lutam e entendem que existe algo em comum entre todos, e que direciona o entendimento prático daquilo que defendem.

Neste espaço a confraria defende as cores do esporte, do desporto, de uma das mais antigas manifestações da cultura dos povos, a intenção deste BLOG é trazer reflexões de diversos ícones, anônimos ou não, que lutam em diversas frentes, utilizando o desporto como meio de modificação de realidades. Assim, fica o convite, contribuam com este espaço, tragam sugestões, enviem soluções, levantem discussões, o desporto é reflexo de nossa sociedade, mais ainda, é reflexo da nossa paixão por ele, afinal, educadores físicos ou amantes do desporto todos nós temos por missão: contribuir para um futuro melhor, e neste caminho o desporto é a nossa locomotiva!

Thiago Santos